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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Desmatar para empobrecer

Um dos principais argumentos da bancada ruralista de que o desmatamento garante o crescimento da colheita e conseqüentemente o desenvolvimento econômico foi por água abaixo graças a um levantamento feito pelo jornal Correio Braziliense. Em reportagem especial publicada no último domingo, o repórter Vinícius Sassine prova que a lógica ruralista nem sempre acontece na prática.

Dados reunidos pelo jornal mostram que as 50 cidades que mais devastaram o cerrado entre 2002 e 2008 não obtiveram o crescimento esperado. Juntas elas colocaram abaixo 12,4 mil quilômetros quadrados de vegetação, o equivalente a mais de duas vezes a área do Distrito Federal.

Segundo a reportagem, as cidades que mais desmataram o cerrado entre os sete anos estudados estão em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Maranhão, Bahia, Minas Gerais e Tocantins. Em 66% desses municípios, o PIB cresceu menos do que o aumento registrado nos estados entre 2003 e 2007, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Imazon já detectou em estudo na Amazônia o mesmo tipo de fenômeno. Chamou-o de ciclo de boom-colapso e identificou que ele leva 16 anos, ou 4 mandatos de prefeito. No começo, quando o município começa a desmatar, seu PIB sobe repentinamente. Mas depois, à medida em que os recursos naturais vão escasseando e a terra se esgotando, o que resta é pobreza.

Para o pesquisador Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG), responsável pela emissão de alertas de desmatamento do cerrado, o ciclo da substituição da mata nativa pela monocultura é simples. Primeiro a cidade prospera e depois a economia local estaciona. “É esse o modelo de desenvolvimento nessas regiões: crescer e estagnar”.

Em alguns casos o fluxo econômico pode até recuar. É o caso de Tasso Fragoso, município ao sul do Maranhão. Os produtores rurais da pequena cidade de sete mil habitantes desmataram 263 quilômetros quadrados de vegetação nativa em sete anos, assumindo a 14ª posição no ranking dos 50 maiores desmatadores do cerrado. Plantações de soja, milho e algodão garantiram que a cidade se desenvolvesse. Estradas foram construídas, a energia chegou ao município além de telefone e telefone celular. E só. A estagnação veio pouco tempo depois. Hoje por causa do recuo da soja em razão da oscilação dos preços, o PIB local caiu pela metade e o PIB per capita foi reduzido de R$ 23,4 mil para R$ 11,1 mil.

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